sábado, 16 de janeiro de 2010

A vergonha de Iemanjá


Segundo contam, Iemanjá era filha de Olocum (Deus do Mar). Moça muito bonita, nunca saiu do reino de seu pai, pois tinha muita vergonha do tamanho dos próprios seios.
Um dia conheceu um homem que, encantado com sua beleza, suplicou-lhe que se casasse com ele. Durante muito tempo ela se recusou a sequer pensar no assunto, tinha muito medo de ser humilhada por causa de seu físico. Seu pai, ansioso por casar a bela filha, dava-lhe muitos conselhos insistindo para que ela aceitasse.
Finalmente, reconhecendo que não poderia continuar solteira, acabou por aceitar o consórcio, mas alertou o futuro marido que jamais toleraria nenhum tipo de comentário a respeito de seus volumosos seios. Por alguns anos foram bastante felizes, o homem tudo fazia para agradar a linda esposa.
Como não há bem que não se acabe, a união durou até que, em certa ocasião, o marido, depois de ter tomado vinho a tarde inteira, chegou a casa tropeçando. Iemanjá ficou muito irritada, o chamou de bêbado e disse-lhe que sentia vergonha e se arrependera amargamente de ter se casado com ele, um pária que não sabia respeitar a esposa, e que cobria de lama o lar que construíram. O marido com muita raiva desandou a fazer comentários desairosos sobre os seios dela, rindo e apontando para eles como se fossem absolutamente monstruosos. Isso foi o fim. Tudo que ela temera a vida toda estava acontecendo. Atordoada pelo ódio bateu com violência o pé no chão e, transformando-se num rio tempestuoso, voltou para casa de seu pai Olocum de onde nunca mais saiu. E é de lá, do fundo do mar sagrado, que a bela moça reina absoluta até hoje.

Luiz Carlos Pereira

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