sábado, 16 de março de 2013

A Volta de Obaluayê



Após muitas viagens pelo mundo afora, Obaluayê, cansado das muitas guerras e sofrimento, finalmente chega à aldeia onde nascera.
Caminhando pelos recantos quase esquecidos na memória, perde-se em pensamentos saudosos da infância que longe vai. Logo percebe a euforia dos habitantes e procura saber o porquê dessa agitação. Soube então que  estava acontecendo uma grande festa com a presença de todos os Orixás e assuntando daqui e dali descobriu o local da comemoração. Dirigiu-se ao barracão onde os grandes se reuniam e ficou a espreitar por entre as frestas a riqueza e alegria daqueles que eram seus irmãos e que, provavelmente, nem lembravam mais dele. Devido à sua medonha aparência não ousava entrar e apresentar-se.
Ogum, ricamente vestido com sua armadura brilhante, foi o primeiro a perceber a presença e a angústia do Orixá que se escondia envergonhado e uma ponta de dó tomou-lhe o peito. Rapidamente apresentou-se e o cobriu com uma roupa de palha, que ocultava todo seu corpo e rosto doente, e o convidou a entrar e aproveitar a alegria dos festejos.
Apesar de envergonhado, mas seguro por estar coberto, ele entrou, mas com tristeza percebeu que ninguém se aproximava dele. Iansã, sempre atenta, a tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a situação de Obaluayê e dele se compadecia, por isso começou a elaborar um plano. O xirê estava animado e todos se divertiam muito. Os Orixás dançavam alegremente com suas equedes. Aproveitando-se disso, Iansã rodou pelo salão e quando chegou bem perto dele soprou as roupas de palha que cobriam sua pestilência.
Uma ventania intensa varreu todo o espaço, as palhas voaram para longe e as feridas de Obaluayê pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão. O ambiente emudeceu, podia-se ouvir o zumbido de um mosquito quando todos os olhares se voltaram para o recém-chegado. Obaluayê, o deus das doenças, estava ali, paralisado e inseguro, mas transformado num jovem belo e encantador. O silêncio foi cortado pelo frenético som dos tambores que soaram em respeito ao grande Orixá e todos louvaram sua presença: - Atotô!
A partir desse dia, Obaluayê e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos dos mortos, partilhando pela eternidade o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.

Um comentário:

RITA DE CASSIA disse...

Muito linda esta lenda, adorei.