Há muito tempo atrás, uma bela moça vivia na mata com seu velho pai adotivo. Essa moça era Iansã. Dona de uma beleza extraordinária vivia para os afazeres domésticos enquanto seu pai Odulecê, que era um grande caçador, embrenhava-se pela floresta em busca do alimento para ambos.
Um dia Odulecê partiu para uma caçada e demorou muito mais que o comum. A noite caiu, a madrugada se foi, o dia amanheceu e nada do caçador aparecer. Iansã ficou desarvorada e saiu em desespero procurando pelo velho pai. Palmilhou cada canto da mata durante três dias e três noites até encontrar o homem que a criara com tanto carinho, morto. Tinha sido atacado por uma fera e não tivera chance alguma. Ali estava seu corpo dilacerado. A dor consumiu Iansã, na visão daquela cena, suas lágrimas correram e de seu peito um grito rouco brotou. Nesse instante a mata foi sacudida por uma ventania incontrolável, as folhas voavam, os troncos velhos e fortes balançavam açoitados pelo vento que a tristeza de Iansã causara.
Voltando para casa, a moça resolveu homenagear o homem que tanto bem lhe fizera. Para isso, embrulhou todos os pertences do morto, preparou suas iguarias preferidas e dispôs tudo em circulo ali mesmo em frente à casa que durante tantos anos dividiram. Durante sete dias cantou e dançou em torno das oferendas. Seus ventos espalharam-se pelos campos, matas e aldeias e todos puderam sentir a tristeza e solidão de Iansã. Na sétima noite embrulhou tudo e, entre lágrimas, depositou aos pés de uma árvore sagrada.
Olorun que a tudo vê e de tudo sabe, comoveu-se com tamanha dor e resolveu que aquela jovem merecia um destino melhor. Bateu com seu cajado e transformou-a em orixá. Iansã ganhou a imortalidade e o cargo de guia dos mortos nos caminhos sagrados. Seria ela a mãe dos espaços dos espíritos.
E foi a partir daí que Olorun definiu o ritual a que todos os mortos têm direito: comidas, cantos, danças, um espaço sagrado e uma mãe carinhosa para encaminhá-los, Iansã.
Eparrei Oyá!
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