quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Lenda de Iroko


Naquela aldeia africana as mulheres não conseguiam engravidar e, por isso, tiveram a ideia de recorrer aos poderes de Iroko. Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o cuidado de manter as costas voltadas para o tronco. Não podiam, nem ousavam, olhar a grande planta, pois, aqueles que olhavam Iroko de frente enlouqueciam e morriam. Suplicaram-lhe filhos e ele quis saber o que teria em troca. Cada uma prometia o que o marido tinha para dar: milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. Uma delas, chamada Olurombi, era a mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para oferecer. Desesperada, não pensou duas vezes, prometeu o primeiro filho que tivesse.

Nove meses depois a aldeia alegrou-se com dezenas de nascimentos e as mães felizes foram entregar a Iroko suas oferendas. Olurombi contou a história ao marido, mas não pôde cumprir sua promessa. O casal já tinha se apegado demais ao menino recém-nascido. No dia da oferenda, Olurombi ficou de longe, segurando nos braços trémulos o filhinho tão querido. O tempo passou e ela mantinha a criança bem longe da árvore.

Um dia, passava Olurombi pelas imediações do Iroko, quando, no meio da estrada, bem à sua frente, saltou o temível espírito da árvore, dizendo:

- Tu me prometeste o menino e não cumpriste a palavra dada. Transformo-te então num pássaro, para que vivas sempre aprisionada em minha copa.

Transformada a pobre mulher voou para a copa de Iroko para ali viver para sempre. O marido a procurou, em vão, por toda parte. Todos os que passavam perto da árvore ouviam um pássaro que cantava, dizendo o nome de cada oferenda feita a Iroko. Até que um dia, quando o artesão passava por ali, ele próprio escutou o pássaro, que cantava assim:

- Uma prometeu milho e deu o milho; outra prometeu inhame e trouxe inhames; uma prometeu frutas e entregou as frutas. Só quem prometeu a criança não cumpriu o prometido.

Ouvindo isso o marido de Olurombi entendeu. Só podia ser ela, enfeitiçada por Iroko. Ele tinha que salvá-la! Foi à floresta, escolheu o mais belo lenho de Iroko, levou-o para casa e começou a entalhar. Da madeira entalhada fez uma cópia do menino, o mais perfeito boneco que jamais havia esculpido, com os traços do filho, sempre alegre e sorridente. Poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada de ervas sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas do menino e a enfeitou com ricas jóias de família.

Assim que terminou levou o menino de pau a Iroko e o depositou aos pés da árvore sagrada. Iroko gostou muito do presente, era o menino que tanto esperava! Sorria sempre, jamais se assustava quando seus olhos se cruzavam. Não fugia como os mortais, não gritava de pavor e nem lhe dava as costas, com medo de o olhar de frente. Embalando seu pequeno menino de pau, batia ritmadamente com os pés no solo e cantava animadamente. Devolveu a Olurombi a forma de mulher que, aliviada e feliz, voltou para casa.

Dias depois, os três levaram para Iroko muitas oferendas. Levaram ebós de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços de tecido de estampas coloridas para adornar o tronco da árvore. Eram presentes oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes pelo retorno de Olurombi. Até hoje todos levam oferendas a Iroko. Porque ele dá o que as pessoas pedem, mas exige que elas lhe deem o prometido!







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