Muitos perguntam por que a pipoca é oferecida a Obaluaiê/Omulu nos terreiros de Umbanda, já que os africanos não tinham acesso a esse alimento. Vou tentar em poucas palavras explicar o porquê e as razões que temos para oferendar esse orixá dessa forma.
A Umbanda adotou a pipoca como oferenda a ele pelas características que ela apresenta, ou seja, é dura, grosseira e transforma-se quase como num passe de mágica em deliciosa flor comestível. Lembremos que Obaluaiê/Omulu é um orixá duro e implacável, com certa tendência ao rancor e ressentimento vingativo. No entanto, conforme contam suas lendas, que um dia descobriu-se como o médico dos pobres, aquele que tinha o dom de salvar vidas o que aceitou como missão e destino.
Essa é a leitura que os umbandistas fazem do assunto. Percebam que todas as fábulas que se contam a respeito, sejam de quais nações forem, o que, aliás, para a Umbanda não é levado em consideração, mostram exatamente a transformação pela qual o orixá passou e essas passagens colocam a pipoca como o símbolo dessa mudança.
Lembro ainda que, apesar de sempre levantarem essa dúvida quanto à oferenda, esquecem-se que pelos mesmos motivos já citados a pipoca é importante em vários rituais umbandistas e está presente em horas boas e ruins dentro de nossos terreiros. Em festas de Cosme e Damião está lá, colorida e doce. Nas homenagens aos pretos-velhos, quem está lá? Ela novamente, desta vez ligeiramente salgada. Em descarregos pesados em que precisamos afastar negatividades presentes em uma pessoa ou mesmo em trabalhos de cura, nem preciso repetir. Ela outra vez, agora sem sabor algum.
Em suma, a pipoca se tornou ingrediente indispensável em nossa religião por seus atributos e não conheço nenhum dirigente que dispense seu uso em diversas outras situações que, para não ser cansativo, deixei de citar.
A Mãe Cambinda da Guiné, preta-velha mandingueira gosta de citar: “Pipoca? É milho duro que vira flor!”
Não é linda a simplicidade da síntese?
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