Ossãe era o senhor das folhas, através delas conhecia o segredo da cura e o mistério da vida. Todos os Orixás recorriam a ele para curar qualquer moléstia. Sempre iam à casa de Ossãe oferecer seus sacrifícios. Em troca recebiam preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas e beberagens de todo o tipo. Não havia o que Ossãe não curasse. Curava dores, feridas e sangramentos; inchaços e fraturas; febres e órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males.
Um dia Xangô, o deus da justiça, julgou que todos os Orixás deveriam compartilhar o poder de Ossãe, conhecendo o segredo das ervas e adquirindo o dom da cura. Sentenciou que as folhas de Ossãe fossem divididas com os outros Orixás, já que todos delas precisavam e não podiam ficar a mercê de seus mistérios. Ossãe, revoltado, negou-se a fazer a divisão, embrenhou-se na floresta e não mais falou com ninguém. Xangô, que odiava ser contrariado, ordenou que Iansã soltasse o vento para buscar todas as folhas das matas que ele mesmo distribuiria entre os Orixás. Atendendo à determinação, Iansã gerou uma enorme ventania que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio real. Ao perceber o que estava acontecendo, Ossãe saiu de seu esconderijo e gritou: - "Euê Uassá!", era uma ordem às folhas para que voltassem às matas, ao que elas imediatamente obedeceram. Quase todas as folhas retornaram aos seus lugares. Mas, as que já estavam em poder do rei perderam o poder da cura. Xangô, que era absolutamente justo, admitiu a vitória de Ossãe. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo dele e que assim devia permanecer.
Apesar do acontecido, Ossãe cedeu uma folha para cada Orixá, acompanhada de seus axés e efós, que são as cantigas mágicas e encantadas, sem as quais nenhuma folha funciona. Fez isso para que os Orixás não mais o invejassem. Eles também podiam realizar curas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si. Ossãe não conta seus segredos para ninguém. Os Orixás ficaram gratos a ele e nunca deixam de reverenciá-lo ao fazerem uso de qualquer folha.
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