Ogum tinha o hábito de caçar na floresta, todos os dias. Certa manhã quando andava pela mata, um búfalo atravessou seu caminho rápido como um relâmpago; percebendo que era um animal diferente daqueles que conhecia, passou a segui-lo. O búfalo parou em cima de um grande formigueiro, baixou a cabeça e despiu sua pele, transformando-se numa linda mulher.
Era Iansã, coberta por belos panos coloridos e braceletes de cobre, fez da pele uma trouxa, colocou os chifres dentro, escondeu-a no formigueiro e partiu em direção ao mercado, sem perceber que alguém tinha assistido sua transformação. Assim que ela se foi, Ogum se apoderou da trouxa, levou para casa e a escondeu em seu celeiro. Depois foi a cidade, e passou a seguir a mulher até que criou coragem e começou a cortejá-la, sem obter resultado.
Ao anoitecer ela voltou à floresta e, para sua surpresa e desespero, não encontrou a trouxa. Retornou à cidade e encontrou Ogum, que lhe disse estar de posse daquilo que procurava. Para resguardar seu segredo, Iansã foi obrigada a se casar com ele. Apesar da raiva por ter que ceder a uma chantagem, conseguiu estabelecer certas regras de conduta, dentre as quais, proibi-lo de comentar o assunto com qualquer pessoa.
Chegando a casa Ogum explicou à suas outras esposas que a nova mulher iria morar com ele e que, em hipótese alguma, deveriam insultá-la. Tudo corria bem, mas enquanto Ogum saía para trabalhar, Iansã passava o dia procurando sua trouxa.
Dessa união nasceram nove filhos, o que despertou ciúmes das outras esposas, que eram estéreis. Uma delas, conseguiu embriagar Ogum e ele acabou relatando o mistério que envolvia Iansã. Logo que o marido se ausentou, elas se juntaram e, entre palmas e risos, começaram a cantar: "Você pode beber, comer e exibir sua beleza, mas a sua pele está no depósito, você é um animal nojento!". Ao ouvir a cantiga Iansã ficou transtornada de ódio e imediatamente foi ao celeiro onde encontrou sua pele e seus chifres. Assumiu a forma de búfalo e avançou para cima de todos numa fúria cega, poupando apenas seus filhos.
Nesse dia decidiu voltar para a floresta, mas não permitiu que os filhos a acompanhassem. Deixou com eles seus chifres e orientou-os para que, em caso de perigo, batessem os chifres um contra o outro; obedecendo a esse chamado ela viria de onde estivesse para socorrê-los imediatamente. É por esse motivo que os chifres estão presentes nos assentamentos de Iansã em todos os candomblés.
Eparrêi Oyá!
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