sábado, 28 de novembro de 2009

Pomba-Gira Rosa Vermelha


A tarde caia lentamente. Assustada, Rubia apertou o passo quando percebeu, que um homem a seguia. Era Felinto, o bêbado da cidade. Tentou entrar por ruelas estreitas para despistar seu perseguidor. No entanto, ele continuava caminhando, a poucos passos dela. Rubia lançava olhares para todas as direções tentando encontrar alguém que a pudesse ajudar, mas era vão. A cidade estava deserta. Nem os moleques que costumavam correr por ali todas as tardes se faziam presentes nesse dia.


Já tinha ouvido falar das grandes bebedeiras daquele homem, porém nunca soube que ele houvesse feito mal a alguém. Mesmo assim, a respiração pesada, que ouvia, vinda dele, a cada passo que dava, deixava-a apavorada e insegura quanto ao motivo daquela perseguição.

Nunca saia sozinha. Aos dezessete anos, era uma moça de rara beleza e seus irmãos mais velhos nunca permitiam que fosse às ruas sem ter, ao menos um deles, como acompanhante. Nessa tarde escapara da vigilância cerrada e fora ao campo respirar um pouco de ar puro. Ao retornar, satisfeita por ter fugido um pouco da rotina, percebera os passos de Felinto e seu coração gelou. Havia algo de muito errado naquela atitude. Agora já estava correndo. Ele corria também. As mãos fortes do homem agarraram-na e uma delas imediatamente cobriu-lhe a boca.

A mão livre corria pelo seu corpo. Ela já não tinha dúvida quanto ao interesse que despertara. Freneticamente tenta se livrar, mas ele é muito forte. Uma dor aguda anuncia que chegara ao fim. Aquele infeliz tomara sua virgindade à força. Com os olhos nublados pelo ódio vê o homem levantar-se com um sorriso cínico dirigido a ela. Num relance, percebe, perto de si, uma grande pedra pontiaguda. Com rapidez se ergue já com a pedra na mão. Felinto está de costas, absorvido na tarefa de fechar a calça. Sem titubear, ela atinge sua cabeça com um golpe certeiro. Surpreso, o homem se vira. O sangue corre pelo seu rosto. Tomado de ódio e dor, agarra Rubia novamente e aperta-lhe o pescoço com extrema violência. Caem ambos por terra. A moça ainda vê a morte passar pelos olhos do homem, antes de também exalar o último suspiro.

O caminhar do espírito de Rubia, por vales sombrios, foi longo e doloroso. De outras encarnações trazia pesada carga. O assassinato de Felinto só fez aumentar, seu período de sofrimento em busca de conhecimento e luz. Hoje, em nossos terreiros, se chama Rosa Vermelha. A pomba-gira dos grandes amores. Discreta e bela, sua incorporação encanta a todos que a conhecem.

Sarava a pomba-gira Rosa Vermelha!

Luiz Carlos Pereira

2 comentários:

Tati disse...

Adorei a história desta Pomba Gira que carrego comigo
Muitissimo Obrigada

Hélio dos Santos Pessoa disse...

Prezado Luiz Carlos Pereira, saudações!

Meu nome é Hélio dos Santos Pessoa Júnior. Faz aproximadamente um ano e meio, desde que tive contato, pela "primeira vez" com essa Pomba Gira Rosa Vermelha, cujo nome é Rubia. Ao ler esta história dela, algo extremamente forte me tocou o coração, talvez, pelo fato de possivelmente ter convivido com ela por essa época. Foi algo extremamente forte, de um passado poético e sonhador, embora tenha um fim trágico e triste. A partir desse momento, comecei a construir uma história de amor, de carinho e amizade com essa Pomba Gira, uma história que mudou a minha vida. Gostaria de contar essa história para você com mais detalhes, mas como o espaço aqui é pequeno, deixo o meu e-mail para contato:

heliojr9@hotmail.com

Por favor, entre em contato comigo o mais rápido que puder, pois preciso muito esclarecer dúvidas sobre essa história, preciso de sua ajuda amigo! Desde já agradeço!

Atenciosamente,

Hélio