domingo, 26 de julho de 2009

Lenda de Nanã Buruquê




No inicio dos tempos os pântanos cobriam quase toda a terra. Faziam parte do reino de Nanã Buruquê e ela tomava conta de tudo com mãos de ferro como boa soberana que era. Quando todos os reinos foram divididos por Olorun e entregues aos orixás uns passaram a adentrar nos domínios dos outros e muitas discórdias passaram a ocorrer. E foi dessa época que surgiu esta lenda. Ogum precisava chegar ao outro lado de um grande pântano, uma guerra estava prestes a ocorrer e sua presença era solicitada com urgência. Resolveu então atravessar o lodaçal para não perder tempo. Ao começar a travessia que seria longa e penosa ouviu atrás de si uma voz autoritária:
- Volte já para o seu caminho rapaz! - Era Nanã com sua majestosa figura matriarcal que não admitia contrariedades - Para passar por aqui tem que pedir licença!
- Como pedir licença? Sou um guerreiro, preciso chegar ao outro lado urgente. Há um povo inteiro que precisa de mim.
-Não me interessa o que você é e sua urgência não me diz respeito. Ou pede licença ou não passa. Aprenda a ter consciência do que é o respeito ao alheio.
Ogum riu com escárnio: - O que uma velha pode fazer contra alguém jovem e forte como eu? Irei passar e nada me impedirá!
Nanã imediatamente deu ordem para que a lama tragasse Ogum para impedir seu avanço. O barro agitou-se e de repente começou a se transformar em grande redemoinho de água e lama. Ogum teve muita dificuldade para se livrar da força imensa que o sugava. Todos seus músculos retesavam-se com a violência do embate. Foram longos minutos de uma luta sufocante. Conseguiu sair, no entanto, não conseguiu avançar e sim voltar para a margem. De lá gritou:
-Velha feiticeira, você é forte não nego, porém também tenho poderes. Encherei esse barro que chamas de reino com metais pontiagudos e nem você conseguirá atravessa-lo sem que suas carnes sejam totalmente dilaceradas. E assim fez. O enorme pântano transformou-se em uma floresta de facas e espadas que não permitiriam a passagem de mais ninguém. Desse dia em diante Nanã aboliu de suas terras o uso de metais de qualquer espécie. Ficou furiosa por perder parte de seu domínio, mas intimamente orgulhava-se de seu trunfo: - Ogum não passou!
Saravá Nanã Buruquê! Saluba Vovó!
Luiz Carlos Pereira

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