sábado, 27 de junho de 2009
O sincretismo na Umbanda
Houve um triste tempo em nosso país onde os negros trazidos à força da África sofriam com a saudade de seus lares, parentes e amigos. Obrigados a uma rotina de maus tratos torturante sentiam falta de seus ritos tradicionais com danças, cantos e louvores aos orixás de sua terra.
Ao observarem a fé de seus senhores totalmente direcionada aos cultos católicos, os negros passaram a disfarçar seus hábitos religiosos usando os santos da igreja como “sombra” para seus deuses. Colocavam imagens católicas no meio de suas rodas e louvavam durante a noite as suas divindades, sempre dizendo aos feitores que era o jeito africano de homenagear os santos de seus senhores. Estes, por sua vez, estranhavam os batuques e os cantos em linguagem indecifrável, o que fazia tudo parecer feitiçaria, mas ficavam tranqüilizados ao saberem que eram festas para os santos católicos, chegando, às vezes, a freqüentar as rodas religiosas.
Desse pequeno embuste surgiu a tradição do uso de imagens católicas para identificar os santos de Umbanda e Candomblé, o que na realidade não existe. Claro está que hoje esse sincretismo deixou de ser necessário, mas os pais no santo admitem que ao se ter uma imagem para direcionar suas preces e pedidos, os filhos sentem-se mais a vontade, pois os orixás são forças da natureza, energia vibrante do vento, da chuva, do fogo e assim por diante. Como relacionar nossas orações a essas energias sem uma imagem que as torne mais “palpáveis”?
Temos também um problema relacionado a isso que é a falta de imagens umbandistas para os santos de nossa fé, com exceção feita a Iemanjá, que todo o povo já relaciona à bela imagem da moça vestida de azul. Os outros orixás não têm uma imagem para ser colocada em nossos congás, portanto, continuamos a colocar em nossos altares os santos católicos e confiamos, sim, neles e nos orixás que sabemos não ter essa representação.
Hoje existem vários terreiros que exibem em suas casas imagens dos santos do Candomblé. É errado? Não. Tudo vale desde que haja o respeito e a fé necessários para um bom trabalho. Que as mentes estejam direcionadas para a energia que o congá nos transmite e eleve nossos pedidos e pensamentos até o Pai celestial e que os santos, católicos ou não, nos ajudem como mensageiros Dele, que na verdade os são.
Respeitemos então o sincretismo como tradição que devemos aceitar e resguardar para o futuro de nossa religião. A Umbanda é um celeiro de fé e nela cabem todas as espécies de crenças que possam nos levar ao objetivo maior de amor e caridade pregado pelas nossas entidades.
Luiz Carlos Pereira
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