Prometi que sempre escreveria algo sobre mim, pois tenho muitas histórias. Estou pagando a promessa. Lembrei de um caso que hoje acho muito engraçado, mas na época, não foi mesmo.
Fui convidado para visitar um terreiro que não conhecia. A mãe no santo me conhecera em outra casa e me convidou. Chamei alguns filhos no santo e fui. Ao chegar achei tudo muito bonito, o congá enorme enchia a visão assim que se entrava. O chão era cimentado e muito bem encerado, o brilho das velas se refletia nele com exatidão. O casal de dirigentes foi me apresentado. A mãe Glória (que eu já conhecia) uma mulata gorda e muito bonita de rosto, tratou-me com carinho e atenção. O Pai Valter era o oposto, baixo, atarracado e descaradamente avesso a visitas, de sua parte fui quase que ignorado, não fosse por insistência da mulher para que entabulássemos uma conversa, que não vingou. Sabendo de minha condição de dirigente Mãe Glória convidou a mim e meus filhos a adentrar no terreiro para participarmos da gira. Nesse momento percebi que o Pai Valter não iria participar do trabalho, sentou-se em frente a uma mesa que havia no fundo do salão, onde se vendiam artigos religiosos. O trabalho começou muito bem dirigido e organizado. Senti todas as vibrações e deixei que minhas entidades trabalhassem livremente. Nesse dia foram chamadas duas linhas, Caboclos e Preto-velhos. Mãe Glória trabalhava muito bem e suas entidades, Caboclo da Mata Virgem e Mãe Maria de Aruanda, eram de uma firmeza exemplar. Trabalhei com meu Caboclo (Sete Nós da Guiné) e dei passagem ao meu preto velho (Pai Francisco de Luanda) que fizeram sua parte e puxaram as entidades dos filhos que me acompanhavam. . Tudo correu muito bem, foram dados passes, a assistência foi atendida e a sessão foi encerrada com sucesso. Batemos as cabeças, despedimo-nos de Mãe Glória e nos dirigimos a saída. Quando fui me despedir do Pai Valter ele me disse com aquela cara de raiva contida:
- Não se retire ainda que estou fazendo as contas...
Juro que não entendi. Que contas seriam aquelas? Todos paramos (éramos quatro) e ficamos em suspense enquanto ele pegava um caderninho e um lápis. Depois de muito enrolar com aquele risca-rabisca apresentou-me uma conta. Olhei para trás para ver se via a mãe Glória, mas ela deveria estar se trocando, pois não apareceu. Olhei para o papel apresentado e perguntei do que se tratava.
- Seu caboclo fumou charuto e seu preto-velho bebeu café e fumou cigarro...
Isso mesmo, ele estava me cobrando pelo que minhas entidades usaram durante o trabalho. Fiquei espantado, além do burlesco da situação havia o roubo descarado, o preço que ele me apresentava por um charuto seria o que eu pagaria por três muito bons em qualquer casa de artigos religiosos, que todos sabem não ser nem um pouco barateiras. O cobrado pelo café e um cigarro, daria para comprar um maço de cigarros e teria troco. Fiquei muito envergonhado, não havia levado dinheiro, meus filhos também não. Tentei argumentar que pagaria em outra oportunidade ou voltaria no outro dia para isso. Ele foi muito gentil:
- Tem que pagar hoje! – A cara que ele fez ao dizer isso deixou muito claro que não havia como fugir da situação. Graças a Oxalá não morávamos muito longe e pedi ao Rubens, um de meus filhos, que corresse até em casa e pedisse o dinheiro a minha mãe. Em quinze minutos tudo foi resolvido, mas foram alguns dos piores minutos de minha vida. Enquanto o rapaz não voltou, ficamos sentados na assistência já vazia, mortos de vergonha e o Pai Valter na cadeirinha não abandonou o posto por um minuto, também não nos dirigiu uma palavra. Paguei e deixei o troco que ele empurrou por cima da mesa, empurrei de volta. – Pode ficar! – Me retirei e nunca mais voltei ali. Uma coisa essa história me ensinou, nunca mais fui a nenhum terreiro sem ter dinheiro no bolso. Verdade seja dita isso aconteceu há mais de vinte anos e nunca mais vi nada nem parecido. Espero que não existam mais Pais Valteres por aí.
Fui convidado para visitar um terreiro que não conhecia. A mãe no santo me conhecera em outra casa e me convidou. Chamei alguns filhos no santo e fui. Ao chegar achei tudo muito bonito, o congá enorme enchia a visão assim que se entrava. O chão era cimentado e muito bem encerado, o brilho das velas se refletia nele com exatidão. O casal de dirigentes foi me apresentado. A mãe Glória (que eu já conhecia) uma mulata gorda e muito bonita de rosto, tratou-me com carinho e atenção. O Pai Valter era o oposto, baixo, atarracado e descaradamente avesso a visitas, de sua parte fui quase que ignorado, não fosse por insistência da mulher para que entabulássemos uma conversa, que não vingou. Sabendo de minha condição de dirigente Mãe Glória convidou a mim e meus filhos a adentrar no terreiro para participarmos da gira. Nesse momento percebi que o Pai Valter não iria participar do trabalho, sentou-se em frente a uma mesa que havia no fundo do salão, onde se vendiam artigos religiosos. O trabalho começou muito bem dirigido e organizado. Senti todas as vibrações e deixei que minhas entidades trabalhassem livremente. Nesse dia foram chamadas duas linhas, Caboclos e Preto-velhos. Mãe Glória trabalhava muito bem e suas entidades, Caboclo da Mata Virgem e Mãe Maria de Aruanda, eram de uma firmeza exemplar. Trabalhei com meu Caboclo (Sete Nós da Guiné) e dei passagem ao meu preto velho (Pai Francisco de Luanda) que fizeram sua parte e puxaram as entidades dos filhos que me acompanhavam. . Tudo correu muito bem, foram dados passes, a assistência foi atendida e a sessão foi encerrada com sucesso. Batemos as cabeças, despedimo-nos de Mãe Glória e nos dirigimos a saída. Quando fui me despedir do Pai Valter ele me disse com aquela cara de raiva contida:
- Não se retire ainda que estou fazendo as contas...
Juro que não entendi. Que contas seriam aquelas? Todos paramos (éramos quatro) e ficamos em suspense enquanto ele pegava um caderninho e um lápis. Depois de muito enrolar com aquele risca-rabisca apresentou-me uma conta. Olhei para trás para ver se via a mãe Glória, mas ela deveria estar se trocando, pois não apareceu. Olhei para o papel apresentado e perguntei do que se tratava.
- Seu caboclo fumou charuto e seu preto-velho bebeu café e fumou cigarro...
Isso mesmo, ele estava me cobrando pelo que minhas entidades usaram durante o trabalho. Fiquei espantado, além do burlesco da situação havia o roubo descarado, o preço que ele me apresentava por um charuto seria o que eu pagaria por três muito bons em qualquer casa de artigos religiosos, que todos sabem não ser nem um pouco barateiras. O cobrado pelo café e um cigarro, daria para comprar um maço de cigarros e teria troco. Fiquei muito envergonhado, não havia levado dinheiro, meus filhos também não. Tentei argumentar que pagaria em outra oportunidade ou voltaria no outro dia para isso. Ele foi muito gentil:
- Tem que pagar hoje! – A cara que ele fez ao dizer isso deixou muito claro que não havia como fugir da situação. Graças a Oxalá não morávamos muito longe e pedi ao Rubens, um de meus filhos, que corresse até em casa e pedisse o dinheiro a minha mãe. Em quinze minutos tudo foi resolvido, mas foram alguns dos piores minutos de minha vida. Enquanto o rapaz não voltou, ficamos sentados na assistência já vazia, mortos de vergonha e o Pai Valter na cadeirinha não abandonou o posto por um minuto, também não nos dirigiu uma palavra. Paguei e deixei o troco que ele empurrou por cima da mesa, empurrei de volta. – Pode ficar! – Me retirei e nunca mais voltei ali. Uma coisa essa história me ensinou, nunca mais fui a nenhum terreiro sem ter dinheiro no bolso. Verdade seja dita isso aconteceu há mais de vinte anos e nunca mais vi nada nem parecido. Espero que não existam mais Pais Valteres por aí.
Luiz Carlos Pereira
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