domingo, 22 de fevereiro de 2009

Caboclo 7 Nós da Guiné


A tribo Cajurá estava em polvorosa. Iriam ser atacados a qualquer momento pelos seus grandes inimigos da tribo Tatua, eram muitos homens e todos conheciam a sanha assassina que os guiava. O Cacique Guaiajó resolveu procurar o pajé para que este consultasse e pedisse proteção aos deuses. Jarité exercia a função de mentor espiritual da tribo há muitos anos e sempre que havia qualquer problema era o primeiro a ser consultado, muito respeitado por todos, raras vezes havia falhado nos conselhos que dera. Desta vez, porém, Guaiajó não gostou do que ouviu. Tupã não estava de acordo com essa guerra e pedia por intermédio do pajé que o Cacique Tereti, da tribo vizinha, fosse procurado com uma proposta de paz. Caso contrário, todos pereceriam e Cajurá seria destruída e teria todos seus membros dizimados. A índole guerreira do grande cacique, que já vencera inúmeras contendas, falou mais alto, jamais admitiria tal procedimento. Negou-se terminantemente a continuar ouvindo o que lhe dizia o feiticeiro. - Acho que você está velho demais, Jarité. Já não escuta direito o que Tupã fala. Prepare o veneno das flechas e deixe que com Tupã eu me entendo, ele jamais me abandonou, nunca entrei em guerra para perder. Dizendo isso se retirou. Mesmo contrariado, Jarité começou a cozinhar as ervas que serviriam para envenenar as pontas das flechas que seriam usadas e durante todo o preparo rezou pedindo perdão a todos os deuses pelo erro que, sabia, estava para acontecer. No dia seguinte todos os guerreiros foram chamados para receber instruções e as armas com que defenderiam seu território. Porém quando estavam reunidos no centro da taba um grito uníssono se ouviu. Eram os homens da tribo inimiga que raivosamente avançavam sobre eles. Jarité saiu correndo a tempo de ver o fogo sendo ateado sobre a palha que cobria diversas ocas. Preparou seu arco e desferiu várias flechadas nos homens que estavam mais perto. Viu quando uma flecha inimiga certeiramente atravessou a garganta do Cacique Guaiajó fazendo o corpo do valente guerreiro tombar no centro da taba. Esquecendo avançada idade, Jarité passou a gritar palavras de ordem, exortando os guerreiros de sua tribo a avançar sobre os invasores. Sempre disparando para abrir caminho, seguiu até onde estava o corpo do cacique. Ao se agachar para verificar os sinais vitais de seu chefe, uma flecha rasgou-lhe o peito. Ergueu as mãos para o alto e gritou: - Tupã, senhor do universo, receba minha alma imortal! - Seu corpo caiu inerte sobre o cacique e seu espírito vagou para dentro da mata fechada. Era o fim da aldeia Cajurá e o inicio do caminho evolutivo do velho pajé. Hoje, trabalhador da seara umbandista, Jarité cumpre sua missão com as vestes fluídicas do grande Caboclo Sete Nós da Guiné, velho caboclo feiticeiro que, apesar de incompreendido por muitos, segue na trilha da caridade espalhando conhecimento e fé! Okê Caboclo! Sarava seu Sete Nós!

Luiz Carlos Pereira

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