quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Um pouco de mim

Muita gente me pergunta como vim parar na Umbanda, por isso hoje resolvi falar um pouco do meu inicio. Minha relação com a Umbanda começou muito cedo. Apesar de pertencer a uma família católica, sempre era levado a algum terreiro desde a mais tenra idade. A primeira lembrança que tenho a esse respeito é de uma mãe no santo incorporada com um preto-velho passando alho em um tersol que me havia surgido. Eu devia ter quatro ou cinco anos no máximo. Doeu pra caramba, mas curou. Durante algum tempo tive uma infância voltada à religiosidade, fui católico quase carola, adorava a hóstia e ia a todas as missas apenas para prová-la, um dia um diácono me informou que eu não podia tomar aquele sacramento, pois não havia feito primeira comunhão, decepcionei-me e parti para novos rumos. Tornei-me evangélico, gostava muito dos hinos e das histórias contadas na escola dominical. Li muito a bíblia e conheci bastantes conceitos evangélicos. Nesse ínterim, aos doze anos, fui levado por uma amiga de minha mãe a um terreiro apenas para fazer-lhe companhia. A única idéia que eu tinha da macumba, como se falava na época era aquela lembrança que contei no inicio desta história.
Pois bem, fui com Dona Rosa ao terreiro. Foi paixão a primeira vista, tudo que eu procurava em igrejas, livros e templos variados (passei pelo budismo e kardecismo no mesmo período) estava ali. A beleza da vestimenta, os colares ao pescoço, a incorporação do belo caboclo após uma repentina convulsão, era assim que eu pensava. Tudo me encheu de alegria e certeza. Era o que eu queria para minha vida. A partir desse dia nunca mais me afastei da lei de Oxalá.
Passei por três igrejas de denominações diferentes, enquanto ia ao terreiro escondido, mas sempre que, nelas, era convidado a me batizar, fugia. Alguém deve estar se perguntando como uma criança pode ter essa sede religiosa tão grande? Eu também me perguntava e somente muito mais tarde soube que as entidades que me acompanham é que estavam atrás desses conhecimentos. Enfrentei a fúria de meu pai que jamais aceitou minha escolha. Ajudado por minha mãe a debelar esse entrevero, vesti o branco pela primeira vez com apenas treze anos na mesma casa que citei e lá permaneci por três anos. Afastei-me dela por divergências espirituais. Passei a procurar por outro terreiro incessantemente. Por incrível que pareça, depois de andar por dezenas de lugares encontrei o pai no santo que procurava em uma rua paralela à que eu morava. Ele era um grande estudioso e defensor ferrenho das tradições umbandistas. Foi um período de aprendizado fantástico e cada vez fui me envolvendo mais com os orixás, rituais, entidades e o atendimento a pessoas carentes e desesperadas. Tive muitos dissabores, mas também enormes alegrias. Quando estava prestes a completar dezenove anos, recebi meu decá. Na época fui o mais jovem pai no santo de São Paulo. Muitos foram os problemas enfrentados dentro desses terreiros e de outros que visitei e muito tenho a contar, mas isso é assunto para outro dia. Por enquanto deixo a vocês a certeza de que sou imensamente feliz por ter abraçado a religião que me acompanhará pela eternidade!

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